CEO do Carrefour pede desculpas ao Brasil após polêmica sobre qualidade da carne animal

O presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, decidiu voltar atrás e deve pedir desculpas ao país e aos frigoríficos brasileiros pelas declarações controversas a respeito dos requisitos e padrões de venda da carne oriunda do Mercosul, apurou a reportagem. Pelo teor do documento em elaboração, a ideia é Bompard afirmar que a França voltará a comprar carne dos países do bloco econômico.

A decisão foi tomada com a escalada das pressões políticas e econômicas nas últimas horas, contra a empresa, e contra Bompard, seu principal executivo. Anúncios de empresas de boicote de venda de produtos para a varejista cresciam, e nas redes sociais, críticas de consumidores vinham aumentando desde o início desta segunda-feira.

Há o risco de o Atacadão perder a liderança para o Assaí no quarto trimestre, se a questão não for resolvida rapidamente, confirmou a reportagem com três fontes a par do tema.

A ideia é que uma carta com esse teor seja oficialmente entregue, primeiramente, pela embaixada da França ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, num respeito à posição do governo, num encontro que deve ocorrer possivelmente amanhã. As conversas para o contato estão em andamento.

No texto, Bompard, que assina o documento, deve ressaltar a longa história de parceria com a indústria do setor, numa parceria de 50 anos, e reforçar a qualidade do produto brasileiro.

A reportagem apurou que o ministro só aceitará o pedido se o teor for claramente entendido como uma confissão de erro, e esse recado já chegou à rede, e esse é o maior cuidado do Carrefour na elaboração desse texto. Uma versão pode ser enviada previamente ao ministro, inclusive, dizem fontes.

Inicialmente, é esperado que o embaixador francês na capital federal, Emmanuel Lenain, faça esse contato com o ministro, mas caso exista alguma dificuldade de agenda, o atual presidente do Carrefour no Brasil, Stéphane Maquaire, deve ir no encontro.

A expectativa da rede é que, com as desculpas diretas do próprio CEO global, que criou toda a crise em torno do tema, a situação seja resolvida. Como a reportagem noticiou no sábado, houve soluções iniciais estudadas no fim de semana para resolver a questão, como uma retratação pública de outro executivo do grupo na França, ou do CEO brasileiro. Mas o governo brasileiro não aceitaria um pedido de desculpas que não fosse de Bompard, apurou a reportagem.

Declaração inicial

Na quarta-feira passada, Bompard, disse que os produtos sul-americanos não atendem às exigências e às normas francesas, e esse problema vinha afetando os fabricantes locais. Ainda disse que a rede na França não iria mais comercializar qualquer carne proveniente do Mercosul, e esperava que a sua atitude mobilizasse a sociedade local.

Um crise diplomática, política e econômica, causada por Bompard avançou rapidamente nos últimos dias — para pessoas a par do tema, o executivo agiu de forma errada, ao se posicionar sobre um tema sensível sem medir as consequências. No fim desta tarde, cerca de 40 empresas já estariam na lista de boicote ao Carrefour e deputados anunciavam apoio a campanhas de boicote de consumidores às lojas da empresa, formada pelos grupos Carrefour, Atacadão e Sam’s Club.

Sobre o tema da carta de retratação, a empresa não comenta as informações.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Globo